Profissionais contam ao Portal Casa como estão enfrentando a quarentena

Veja quais foram as mudanças na rotina e na casa dos profissionais da área e quais são as dicas que eles têm para compartilhar

Por Ana Carolina Harada
24 mar 2020, 16h23

Assim como várias outras pessoas, os arquitetos e designers também estão trabalhando de casa neste difícil período de quarentena. Algumas mudanças sempre são necessárias, mas também é um momento de refletir sobre o que é realmente essencial e como manter a rotina em meio a pandemia.

Se você está curioso em saber como os profissionais adaptam suas residências ao trabalho, confira alguns relatos!

Carolina Ferraz – consultora de organização – Onde Eu Deixei

Carolina Ferraz
(Reprodução/Casa.com.br)

“Apesar de não gostar muito, separei um espaço para o Home Office, seguindo a regra número 1: ergonomia. O ambiente de trabalho precisa ser adequado para o volume de horas que você passará trabalhando sem prejudicar sua saúde física. E assim que as coisas melhorarem, quero me dedicar a atividades criativas. Então quero retomar a dança, iniciar uma composteira (que demanda bastante tempo de cuidado) e que o contato com a terra também ajuda bastante no emocional.

Fazer atividades que nunca foram feitas na nossa casa, por exemplo, são uma boa uma oportunidade para enxergar esse espaço em que moramos, menos como um espaço de dormitório e ressignificar o seu lar para você mesmo.

Organizar álbuns de fotos, preparar algum presente para alguém especial e jogos de tabuleiro são uma boa opção para quem tem companhia em casa, pois resgata sentimentos e a relações. Pular corda, amarelinha, esse lúdico, ajuda muito na convivência, ameniza a sensação de isolamento. Mas o tempo sozinho também é importante. Agora quem mora sozinho, pode aproveitar espaços de área livre, uma varanda que bata sol, pois os elementos da natureza ajudam na sua relação com o mundo e com a casa.

Outra recomendação é manter contato com as pessoas, fazendo aulas online, reunião com as amigas pelo celular, ajudam a aplacar a solidão e desabafar com pessoas que fazem parte da nossa rede mas que as vezes não são tão próximas assim. Manter a terapia online e as atividades diárias possíveis é indispensável”.

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Jack Fahrer – Fahrer Design

Sergio Fahrer e Jack Fahrer (2)
(Reprodução/Casa.com.br)

“Estamos tentando ser produtivos da melhor forma, trabalhando em Home Office, mas dando todo acesso e apoio aos escritórios de arquitetura e clientes em geral, deixando canal aberto com eles o tempo todo, totalmente ativos, informamos por e-mail e redes sociais. É claro que afeta por não termos a oportunidade de abrir os projetos com os clientes fisicamente, mas isso não nos impede de seguir em frente, pois temos a tecnologia ao nosso favor, de inúmeras formas. Gosto de pensar que perdemos um pouco de agilidade, mas com o jogo de cintura que temos, conseguiremos dar continuidade nos projetos que temos e abraçar novos.

Na vida pessoal muda bastante, mas estamos vendo as pessoas se mobiliarem pra ajudar as outras. Aqui no meu prédio se criou um grupo pra que a gente ajude as pessoas mais velhas, por exemplo, ao ir ao supermercado. Acabou que eu conheci um vizinho do segundo andar que também curte música e carros e até combinamos de tomar uma cervejinha depois que tudo isso acabar, então, tem um lado muito humano que está aflorando dessa situação toda. O ruim é perder algumas coisas da nossa rotina, mas acredito que o ser humano consegue se adaptar muito bem às situações e, se Deus quiser, em breve, estaremos mais próximos e dando até mais valor para algumas coisas que não damos tanta atenção no dia a dia.

jack-fahrer
(Reprodução/Casa.com.br)

Minha dica para este momento é aproveitar o tempo em casa para cuidar de coisas que não conseguia antes, estudar alguma coisa nova, melhorar algo que já fazemos pois, quando nos aprofundamos em algum assunto, percebemos que podemos ir além daquilo que já fazemos. Aqui em casa por exemplo, minha mãe está preparando receitas que minha avó preparava e que ela não tinha tido oportunidade antes de fazer. Então, prestar atenção a novas oportunidades e aproveitá-las.

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Além de aproveitar o tempo para conversar mais com as pessoas queridas, falar com profissionais que você gosta, trocar ideias com pessoas bacanas e realmente aproveitar o tempo realmente, usando-o ao nosso favor. Com certeza, dessas aproximações, sairão ideias incríveis”.

Maria Fernanda Paes de Barros – Yankatu

Maria Fernanda Paes de Barros_Yankatu
(Reprodução/Casa.com.br)

“Como virginiana e workaholic que sou, estou aproveitando este momento para organizar a parte administrativa da Yankatu. A galeria fica em uma vila a dois quarteirões da minha casa e, como eu moro com minha filha e mais quatro cachorros, preciso de silêncio e calma para trabalhar, então estou indo a Yankatu sozinha e, até o momento, já organizei planilha, estoque e fiz contagem de matérias-primas.

Eu fui convidada para algumas exposições fora do país, sendo duas delas em NY em maio: a Wanted Design e a The Chair. A primeira, com curadoria de Luján Cambariere, foi cancelada e será realizada em 2021, o que nos dará chance de fazer uma exposição ainda mais completa sobre a alma dos objetos criados por designers sul-americanos. Já a segunda, ainda está em fase de decisão se será adiada ou cancelada e estão reforçando sua divulgação digital, a fim de não prejudicar os artistas participantes.

Outra situação que teremos que encontrar uma alternativa, que não afete as pessoas envolvidas, é a minha nova coleção, que será produzida com a comunidade Kaupüna, do Alto Xingu. Eu iria para lá em abril e como, corretamente, esta viagem também foi cancelada, vou, neste momento, conversar com os artesãos virtualmente.

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A coleção Xingu já está desenhada, com suas matérias-primas escolhidas: fizemos uma pesquisa de pigmentos tintórios encontrados na natureza da região, com a ajuda do querido Kulikyrda Mehinako, que enviou amostras para Maibe Maroccolo, da Mattricaria de Brasilia, que criou uma cartela exclusiva para a coleção, de onde tiraremos as cores para o tingimento dos fios.

yankatu
(Reprodução/Casa.com.br)

Neste interim, estou tentando, junto com Kulikyrda, deixar os artesãos animados, pois eles viriam para a SP-Arte, que também foi adiada, apresentar seus bancos indígenas. Estou resolvendo a parte financeira da coleção, quero que eles não se sintam lesados pelo menos no campo econômico. Enquanto isso, vamos levando com otimismo de que o mundo vai melhorar. Hoje, após 3 dias de rituais, eles decidiram colocar internet para que pudessem passar e receber informações fora da aldeia, enquanto estão em quarentena, situação que deve ser respeitada principalmente para que eles sejam livres do contágio.

Então, a partir de hoje, as meninas vão conseguir me ensinar, via vídeo, a produzir algumas técnicas para a coleção, e eu mando as dúvidas que terei no decorrer do processo. Eu acho que são novas formas de desenvolvermos o trabalho.

Uma dica que tenho para que consigamos passar por esse momento de forma mais leve é seguir o que os italianos, espanhóis têm feito: estarem mais próximos emocionalmente dos seus vizinhos. Mesmo que separados fisicamente, eles estão em uma corrente coletiva onde o grupo é mais importante que o indivíduo.

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Como adoro escrever, escrevi uma Carta de uma Viajante (newsletter da Yankatu), falando sobre essa minha vivência nesses dias isolados. Eu tento ver o lado positivo de tudo. Mas acredito que é um momento para enxergarmos que não estamos sozinhos no mundo, que não adianta cuidarmos só de nós mesmos, temos que pensar no outro e agir em conjunto”.

Matthias Ambros von Holleben – Mezas.co

Simone Weber e Matthias Ambros Von Holeben
(Reprodução/Casa.com.br)

“Estamos sentindo um impacto gigante. Como trabalhamos numa relação de fábrica e escritório muito intensa (são juntos), tivemos que fazer isolamento do pessoal de escritório, que trabalha em área mais confinada. Estamos trabalhando de casa, limitando muito o chão de fabrica, então acredito que daqui a algumas semanas, sentiremos uma diferença de produção e venda. O trabalho remoto para nós complica mais, porque eu e Simone (Simone Weber) temos duas crianças que, enquanto trabalhamos em casa, ficam querendo brincar com a gente! Nesse momento iremos aplicar bastante em evoluções operacionais, desenho, processos, produção de materiais etc. Além de dar mais espaço e tempo para nossos filhos durante essa nova dinâmica“.

Vanessa Larré – arquiteta

Vanessa Larré
(Reprodução/Casa.com.br)

Acho que toda a mudança drástica requer um período de adaptação. Trabalhar em casa ,pelo menos para mim, foi um desafio no começo. A gente está acostumada a estar sempre junto, debatendo, trocando ideias e novidades e do nada isso se tornou estritamente online, sem o olho no olho e com o plus de ser bombardeado 24h com notícias tristes e assustadoras.

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Está demorando pra cair a ficha. Ao mesmo tempo, esses primeiros dias de inquietação, de estar em casa, mas não estar de férias, faz a cabeça fervilhar. Nos obriga a, além das tarefas que já teríamos normalmente no escritório, colocar em dia todos os sites de arquitetura, quem sabe até dar atenção pra aquele livro que já foi inspiração mas, em virtude do dia a dia, deixamos pela metade. Salvar no papel aquela ideia que vem do nada mas não tem mais a equipe ali do lado pra compartilhar.

Acredito que uma boa dica para amenizar a sensação de isolamento é usar as redes sociais ao seu favor, combinar chamadas em vídeo com os amigos, aproveitar pra ligar pra alguém que esteja distante e que com a correria do dia a dia acaba ficando difícil, além de que, inúmeras pessoas estão se mobilizando para amenizar essa situação, observamos um número cada vez maior de lives no Instagram, seja de bate-papo ou de “shows”, ampliar essa rede de comunicação e tentar se rodear de coisas que te fazem feliz em meio ao caos que o mundo se encontra”.

Tereza Melo – Trapos&Fiapos

Tereza Melo_TraposFiapos
(Reprodução/Casa.com.br)

“Estou em casa, com minha família, pois tenho mais de 60 anos . A empresa está em uma velocidade bem mais lenta, respeitando a saúde dos colaboradores. Em casa, com nossos entes queridos, temos tempo de refletir sobre nossa vida e nossa realidade. Então, eu penso que a mensagem do Universo sobre tudo o que está acontecendo, de precisarmos nos ligar com o divino, procurar as emoções, ficar em casa, mergulhar internamente, refletir sobre o que queremos. Tomar atitudes em virtude daquilo que não queremos mais, agir com consciência, perceber como estamos todos conectados. Tempos de desacelerar e se enxergar internamente, se conhecer“.

Ricardo Graham Ferreira – oEbanista

RicardoGrahamFerreira
(Reprodução/Casa.com.br)

“Ainda sinto que é cedo para falar sobre o impacto econômico desse momento em nossa produção. É uma situação muito nova, então acredito que daqui uns dias, poderemos ter uma observação mais sólida sobre esse impacto. No dia a dia da oficina, nada mudou, porque eu trabalho sozinho na execução da maioria dos projetos e contrato marceneiros esporadicamente quando a demanda está maior. O que muda é nossa rotina em casa. As crianças estão conosco, então tentamos incluí-las em nossas atividades, além de dispormos mais tempo para elas.

Temos o privilégio de morar em um lugar lindo e com a natureza no quintal (Nova Friburgo-RJ), então estamos nos adaptando a essa nova rotina. É um momento único que a humanidade vai se desafiar em encontrar o equilíbrio, uma mudança de estilo que estamos sendo “forçados” a aprender. E nesse tempo, também temos que procurar a criar, estimular nossa capacidade de inventar coisas, a repensar nossas formas de consumo”.

Claudia Issa – Konsepta Design @konseptadesign

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(Reprodução/Casa.com.br)

“Eu tenho uma vantagem sobre algumas pessoas que estão vivendo esse momento de home office, pela primeira vez. Eu já trabalho em casa, meu ateliê funciona aqui. Minhas duas filhas estão tendo aulas on-line, pois estudam em escola americana e eles já contam com todo um sistema para aulas à distância. Meu marido iniciou um projeto e já trabalha em casa há um ano. Então, estarmos em casa juntos, praticamente o tempo todo, é rotina das boas!

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(Reprodução/Casa.com.br)

Iniciei uma pequena campanha online para ajudar os pequenos fornecedores que precisam continuar vendendo, pois percebi um movimento muito empático nas redes sociais de pessoas criando campanhas de apoio para esta parcela do mercado, então resolvi agir. Vou me valer de minha experiência de muitos anos na área de publicidade e postarei quem precisar. É simples, basta enviar uma foto do seu produto, o conceito da sua marca e um contato. Espero que assim, a roda da economia destes pequenos fornecedores continuem a girar.

Então, se eu tiver que sugerir alguma coisa realmente relevante para o momento. É o isolamento. E que as pessoas mantenham sua rotina o máximo possível dentro de suas casas. O isolamento e a higiene são os grandes heróis do momento neste combate. Peça uma comidinha delícia, abra um bom vinho quando anoitecer e maratone as milhares de séries que temos disponíveis”.

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