A tela branca com o aviso file not found era o que mais aparecia a cada clique no site do japonês Toyo Ito na tarde do dia 17 de março, um domingo – data em que ele se tornou conhecido como o vencedor do Prêmio Pritzker, concedido anualmente a um arquiteto pelo conjunto de sua obra. Mesmo se a página suportasse o alto tráfego gerado nas horas seguintes ao anúncio, o conteúdo talvez decepcionasse os curiosos: não há muitas fotos, tampouco informações detalhadas de cada projeto. Não há sequer e-mail ou telefone de contato. Logo se vê que Toyo Ito, 71 anos, está longe de pertencer à constelação dos starchitects, ou arquitetos estrela, autores de obras bombásticas e mestres na divulgação delas em escala internacional. “Confesso que me surpreendi com a notícia”, fala Dana Buntrock, professora do departamento de arquitetura da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, e autora de um ensaio no livro Toyo Ito (Phaidon). “A laureação com o Pritzker sempre parece acontecer até dois anos após a inauguração de um projeto notável”, analisa. Não é o caso de Ito, cuja obra-prima, a Mediateca de Sendai, ficou pronta em 2000.
É verdade que o japonês ganhou visibilidade em 2002, quando assinou o pavilhão de verão da Serpentine Gallery, no Hyde Park, coração de Londres. Mas o que parece ter pesado para a premiação foi um trabalho de outra natureza. Nos dois últimos anos, ele atuou no cenário japonês pós-terremoto coordenando o desenvolvimento de pequenas estruturas sobre pilotis para casas e centros comunitários nos lugares atingidos. Na Bienal de Arquitetura de Veneza no ano passado, a iniciativa rendeu o Leão de Ouro à representação japonesa. “Esse prêmio e agora o Pritzker reconhecem que a arquitetura precisa parar de exaltar egos e tomar consciência de sua importância nas comunidades”, afirma Dana Buntrock.
Sobre o conceito do projeto, Ito afirmou na época: “Uma zona de desastre oferece a oportunidade perfeita para lançarmos um olhar fresco, do zero, sobre a verdadeira essência da arquitetura”. Eis um arquiteto que não se furta a esse confronto, não tem medo de rever o próprio trabalho – exemplo disso é o museu que leva seu nome, na cidade japonesa de Imabari – nem receia elucubrar sobre o futuro, como fez na casa experimental desenvolvida a convite da empresa Tokyo Gas. E, sim, há uma superobra a caminho – a Ópera de Taichung, em Taiwan, prevista para 2015. Aparentemente, o Pritzker não quis esperá-la para reconhecer a contribuição de Toyo Ito.