Bandeira LGBT ocupará fachada do Edifício Copan

Projeto "A Bandeira no Copan" é uma homenagem ao cinquentenário de Stonewall e será feita durante a 23ª Parada de Orgulho Nacional

Por Evelyn Nogueira
Atualizado em 29 Maio 2019, 15h35 - Publicado em 24 Maio 2019, 15h35

No próximo mês a fachada do Edifício Copan, um dos mais emblemáticos de São Paulo, será ocupada pela bandeira LGBT, caso a campanha de financiamento coletivo atinja a meta. Na ocasião, 4.232 lâmpadas de LED serão usadas para compor as cores do arco-íris. O motivo da homenagem é o cinquentenário de Stonewall, ocorrido em 28 de junho de 1969.

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(Reprodução/Casa.com.br)

A Rebelião de Stonewall foi uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova Iorque, que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, localizado no bairro de Greenwich Village, em Manhattan, nos Estados Unidos. Esses motins são amplamente considerados como o evento mais importante que levou ao movimento moderno de libertação gay e à luta pelos direitos LGBT no país. [Fonte: Wikipédia]

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(Reprodução/Casa.com.br)

Para realizar o projeto, o arquiteto Matheus Vaz fez uma campanha de arrecadamento no Catarse. Se os recursos levantados forem suficientes, as luzes serão acesas no dia 19 de junho, às 17h50. A bandeira iluminará o Copan até o dia 29 de junho e serão desligadas permanentemente às 23h59. No total, serão 69 horas de iluminação, em reverência ao ano que a revolta de Stonewall aconteceu.

A campanha

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A Bandeira no Copan“, uma proposta de intervenção arquitetônica estruturada por Matheus Vaz é uma campanha que pretende iluminar toda a fachada do Copan e a escada espiral da Rua da Consolação, através de um financiamento coletivo. Quando o dinheiro for arrecadado, 10% do valor será revertido para o fundo de reformar e conservação do Copan e também para a Casa1, um centro de apoio à comunidade LGBT.

A proposta de intervenção propõe chamar a atenção do público para a imensidão da diversidade. “Através das cores da bandeira, que marca a luta por direitos LGBTQIA+, queremos trazer o foco para a luta diária que é resistir ao preconceito e ficar de pé e cabeça erguida nas ruas, da maneira que somos e sentimos ser”, diz o texto da campanha.

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(Reprodução/Casa.com.br)

As mais de quatro mil lâmpadas ficarão invisíveis aos olhos do público e serão posicionadas nos brises horizontais da fachada. No total, 41.000 m² de superfícies serão iluminadas. Esta não é a primeira vez que Matheus tem um projeto deste tipo. Em 2018, um edifício abandonado em Goiânia se tornou uma instalação iluminada com as cores da bandeira.

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O Copan

O local escolhido para a homenagem a Stonewall lembra uma bandeira tremulando. Projetado por Oscar Niemeyer e Carlos Lemos na década de 1950, o prédio se tornou um marco na cidade, além de um dos cartões postais mais bonitos da capital.

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Somente em 1980 o Copan passou a receber moradores de classe alta e média, que manifestavam interesse em morar no centro da cidade. O Copan comporta os mais diversos tipos de morada nos 1160 apartamentos, divididos em 32 andares: desde quitinetes até imóveis com três dormitórios.

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A revolta de Stonewall

Considerado um dos movimentos mais importantes para a comunidade LGBT, a Revolta – ou rebelião, ou revolução – de Stonewall, aconteceu em 28 de junho de 1969. Até 1962 qualquer prática homossexual era considerada crime nos Estados Unidos. A punição, entretanto, podia variar entre regime fechado, trabalhos forçados e pena de morte.

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(Reprodução/Casa.com.br)

Devido à política arcaica da polícia nova iorquina, denúncias de pessoas abertamente gays eram feitas constantemente. O único bar assumidamente gay na época era o Stonewall Inn – para mantê-lo aberto, a família mafiosa que gerenciava o local pagava uma grande propina à polícia. Por não ser um bar judicialmente legal, o Stonewall Inn não tinha licença para comercializar bebidas alcoólicas, não tinha saídas de emergência e muito menos correspondia às exigências sanitárias de fiscalização.

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Mesmo com o pagamento ilegal, as batidas comerciais eram constantes no Stonewall Inn. Lá, funcionários, clientes sem identificação e homens trans eram presos. Em 28 de junho de 1969, exatamente às 1h20, quatro policiais invadiram a boate. Mais de 200 pessoas estavam presentes no local quando luzes foram acesas, a música foi desligada e todas as saídas foram fechadas.

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(Reprodução/Casa.com.br)

Os policiais orientaram os clientes a formarem filas divididas por gênero para poder conferir as identidades. Era para ser somente uma batida policial, até que os clientes se recusaram a formar filas e um desconforto geral tomou conta do local. Do lado de fora do Stonewall Inn, curiosos e mais clientes se aglomeraram ao redor do bar para entender o que estava acontecendo.

Os policiais decidiram levar os clientes para delegacia em camburões. Quando o primeiro camburão chegou, ecoaram gritos de “Poder Gay” e “Nós Vamos Vencer”. Um policial começou a tratar uma mulher grosseiramente e a multidão não se calou: tomados por um sentimento coletivo, moedas e garrafas foram atiradas contra as viaturas que estavam presentes. Ainda haviam muitas pessoas dentro do Stonewall quando pedras, tijolos e lixo em chamas foram lançados contra janelas e porta do bar. A polícia ameaçou atirar, mas, um incêndio se alastrou rapidamente no local. Foram 45 minutos até novas viaturas chegarem com reforço do corpo de bombeiros.

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(Reprodução/Casa.com.br)

Pessoas foram presas enquanto a multidão provocava policiais com dança e canto. Essa foi a primeira vez que a comunidade LGBT se posicionou contra os abusos de poder e a homofobia escancarada da polícia norte americana.

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