Um canteiro bem tratado capta muitos olhares, inclusive dos pets, que enxergam ali um parque de diversões. E quando eles recebem passe livre para esse paraíso, quase sempre o resultado são buracos no solo e folhagens mordiscadas e arrancadas. Alguns cuidados podem evitar que o convívio acabe mal, a começar pela escolha das plantas.
Eleja as mais resistentes, com caules e folhas firmes, a exemplo das palmeiras fênix, ráfis e cica, das arbustivas pleomele e buxinho, e das trepadeiras, como a tumbérgia. Já o gramado não tem vez: “A urina dos bichos é ácida e queima a grama. Não bastasse isso, nenhuma espécie suporta o pisoteio contínuo”, diz o paisagista Marcelo Faisal, de São Paulo, com base em sua própria experiência.
“Como a forração morria, troquei boa parte dela por pedriscos e condicionei meu cão a fazer xixi apenas nas pedras”, fala. O tapete verde que restou fica fora do caminho do pet e permite a passagem eventual dos moradores – para locais de pouco tráfego, Marcelo indica as gramas são-carlos e esmeralda.
Situação semelhante viveu a designer Mônica Cintra, que já cultivava um jardim quando o vira-lata e o são-bernardo chegaram. “Muitas plantas morreram, pois os machos demarcavam seus territórios”, lembra.
Ela também apostou nos pedriscos sobre a terra e substituiu as variedades baixas por árvores e arbustos estruturados. “Hoje tenho palmeiras, murtas e jasmim”, relata. Para não abrir mão da coleção de orquídeas e bonsais, pendurou-os em troncos e arranjos verticais fora do alcance das patinhas.
Outra boa solução vem da arquiteta e adestradora Ana Hanashiro. Os vasos com suas espécies preferidas não despertam o interesse dos três cachorros e da gata pois há um canteiro, só deles, repleto de delícias que podem ser mordiscadas: “Plantei ali uma mistura de sementes de alpiste, painço, milho e ervinhas que fazem bem”, ensina.
Foto Marco Lima
O perigo mora no quintal
Como todo cuidado é pouco com pets arteiros, exclua a vegetação que machuca, a exemplo das pontiagudas e espinhosas coroa-de-cristo, espada-de-são-jorge e roseira. Descarte, ainda, as plantas tóxicas, que provocam irritações e podem levar à morte se ingeridas em grande quantidade. São elas: azaleia, hortênsia, alamanda, mamona, bico-de-papagaio, samambaia, copo-de-leite, comigo-ninguém-pode, espirradeira, costela-de-adão, macadâmia e lírio.
E não é só por curiosidade que os animais mastigam as folhas. A maioria come gramíneas ao sentir desconforto estomacal e quando precisa provocar o vômito – os gatos usam esse método para liberar bolas de pelos que engolem em sua higiene. “Se não avistarem grama, podem escolher uma espécie tóxica”, alerta o botânico Gil Felippe. Fique de olho nos rótulos de adubos e inseticidas da jardinagem, pois alguns podem ser nocivos.
Aprendendo as regras da casa
Os cães, principalmente, precisam de ambientes estimulantes para gastar energia, segundo a adestradora Tarsis Ramão, da Cão Cidadão. “Porém, dá para ensiná-los que em alguns lugares não podem mexer”, diz. Eles são capazes de aprender a não entrar no local sem que sejam monitorados, mas não adianta brigar.
“Antes de um não, precisa vir um sim. É difícil impor limites quando se proíbe tudo, sem dar uma alternativa de entretenimento semelhante”, fala Ana. Destine ao pet uma área exclusiva para brincar, fazer as necessidades fisiológicas e enterrar seus objetos. “Uma horta e um tanque de areia certamente agradarão”, aconselha a paisagista Marisa Lima.
Foto Marco Lima
Petisco sem risco
Quem resiste a uma horta cheia de aromas? Porém, algumas espécies podem causar intoxicação. Afaste o perigo cultivando as que são remédios naturais, como erva-cidreira, hortelã e os nutritivos brotos de trigo, milho e cevada.
Foto Marco Lima
Jardins verticais
Eles elevam as plantas tóxicas ou as mais atraentes em vasos presos a suportes. Certifique-se de que o arranjo esteja alto o suficiente. Se a estrutura for apoiada no piso, precisará aguentar empurrões e ser difícil de escalar.
Foto Marco Lima
Escavar aqui não é tão bom
Uma camada generosa de seixos grandes dificulta o acesso à terra. Além disso, por estarem soltas, as pedras geram instabilidade quando pisadas, fazendo os animais pensarem duas vezes antes de passar pela área.
Mais altos que os focinhos
Aposte em canteiros que fiquem acima da altura dos bichos. Se for construí-los, consulte especialistas para saber sobre peso adequado, impermeabilização e espécies que não tenham raízes muito vigorosas.
Dicas de quem sabe de verde e de bichos
O botânico Gil Felippe
– Para cachorros e gatos, vale a mesma listagem de plantas tóxicas, exceto pelos lírios, que colocam em perigo apenas os felinos, e pela macadâmia, que faz mal somente aos cães.
– Disponha pedaços de limão e citronela em locais aonde os bichos não devem chegar. O aroma forte costuma afastá-los.
A adestradora Tarsis Ramão
– Enriqueça o ambiente do animal com brinquedos: eles vão entretê-lo e evitar o interesse pelas plantas.
– Não mexa no jardim na presença de seu pet para evitar que ele suponha que pode imitá-lo.
– Emitir um barulho no instante em que o flagra fazendo arte ensina-o a não repetir o ato.
A paisagista Marisa Lima
– Ao compor barreiras para manter o mascote longe do paisagismo, jamais utilize espécies com espinhos ou donas de formatos que possam machucá-lo.
– No cantinho dos pets, plante sementes de ervas apropriadas a eles. Essa é uma alternativa saudável para quando precisarem se medicar.