Você viu o Oscar? A cerimônia foi bastante diferente este ano: menos convidados, premiação mais curta e, principalmente, menos filmes indicados, sendo que a grande maioria foi lançada em streaming, não em sala de cinema. Mesmo com todas as restrições impostas pela pandemia de Covid-19, os realizadores não fizeram feio em nos mostrar histórias criativas, com boas ambientação e direção de arte.
Três filmes em particular chamam a atenção pela participação da casa na narrativa. Tanto em Meu Pai, quanto em Minari e Nomadland, a ideia de lar é chave para o desenvolvimento dos personagens. Confira abaixo as casas e jeitos de morar desses três filmes indicados ao Oscar 2021.
Meu pai: um apartamento na mente
O apartamento maravilhoso do filme “Meu Pai” é quase um personagem da história, sendo o cenário teatral da luta de Anthony (interpretado por sir Anthony Hopkins) contra o mal de Alzheimer. Assinado por Peter Francis – o cenógrafo de Titanic, dos dois primeiros filmes de Harry Potter e três filmes de 007 – o cenário muda ao longo do filme, para simbolizar a confusão mental do protagonista.
A arquitetura base é a mesma: um set com três portas que levam para a sala de estar, onde acontece a maior parte da ação. Porém, móveis, quadros e cores vão se alterando até o ponto do espectador também se perder e não saber onde está.
O apartamento de Anthony possui móveis mais clássicos e robustos, em madeira, do tipo que se encontra em antiquário. Já o apartamento de Anne possui mobiliário moderno, com peças da Ikea, inclusive. Outro destaque é a paleta de cores, que vai ficando cada vez mais fria e azulada até chegar no azul da clínica de repouso.
Minari: uma casa para a família e para o sonhos
Este é um filme sobre as dificuldades de se adaptar a um novo ambiente, sobretudo quando ele é diferente de tudo o que você conhece. Nós acompanhamos Jacob e Monica, (Steven Yeun e Han Ye‑ri) um casal de imigrantes coreanos que vai morar na parte rural do Arkansas com seus dois filhos pequenos, já que David tem o sonho de se tornar um fazendeiro.
A casa da família é simples, um tipo de casa trailer, toda retangular, que fica suspensa no chão por tijolos ao invés de rodas. Essa simplicidade é um retrato do outro lado do “sonho americano”, com a casa modelo de dois andares, com cerca branca.
Sem muito espaço para privacidade, os personagens se vêem obrigados a interagir e conviver. A decoração é típica dos anos 1980, com muitos revestimentos em madeira, papéis de parede e carpete, o que a torna um pouco escura e claustrofóbica. Porém, se o espaço da casa é reduzido, as áreas abertas e verdes do lado de fora trazem frescor e leveza, sobretudo nas cenas com as crianças.
Nomadland: o mundo como quintal
É possível até traçar paralelos entre a casa de Jacob em Minari e a casa de Fern, em Nomadland. Ambas são compactas e feitas para viagem, mas somente em Nomadland esse propósito é abraçado. A protagonista, interpretada por Frances McDormand, é uma mulher que perdeu tudo durante a recessão de 2008, então decide pôr o pé na estrada e viver outro tipo de vida, como uma nômade moderna.
O filme mistura o aspecto livre e trágico dessa existência viajante, mostrando as dificuldades de não se ter uma casa fixa (como ir ao banheiro, por exemplo) mas também a beleza de se ter um mundo inteiro como quintal a ser explorado.