“A rua é nossa segurança, e não o isolamento”, argumenta o arquiteto Lourenço Gimenes. Por pensar assim, ele e a mulher, a também arquiteta Clara Reynaldo, aboliram muros entre a construção onde moram e o exterior. A ideia causou espanto em amigos e vizinhos, ainda mais considerando que foi um assalto a razão pela qual o casal mudou-se de seu apartamento.
Como os moradores tomaram essa decisão
“Perdemos a vontade de continuar no prédio”, diz Clara. O novo bairro, na zona sul de São Paulo, tem características semelhantes às do endereço antigo. “Nos atraiu a proximidade com restaurantes, farmácias, supermercados e outras facilidades. Gostamos de fazer tudo a pé”, diz Lourenço. Acostumados a manter essa relação direta com a cidade, eles nem cogitaram erguer uma divisória entre a casa e a calçada – apenas um painel de madeira com estrutura metálica separa a área interna da rua. E a peça não foi escolhida com foco maior na segurança, mas na privacidade, pois os moradores passam a maiorparte do tempo no térreo. “No Brasil não encaramos com naturalidade alguém passar lá fora e nos ver dentro de casa”, justifca o arquiteto.
Como viver sem muros?
A ausência de muros garante aos dois maior sensação de segurança. “Ficamos mais protegidos com a cidade olhando para nossa porta. Expostos, somos cuidados por vizinhos e passantes. Além disso, estudos demonstram que invasores preferem casas nas quais possam atuar sem ser vistos”, fala Lourenço. Ele e Clara apontam ainda outra vantagem na área livre em frente à moradia: a composição de uma calçada generosa, que contribui para uma cidade mais humana. A gentileza para com a metrópole permeou também a escolha do sistema construtivo, que emprega painéis internos de drywall, pilares e vigas metálicos e outros elementos típicos de obra seca, capaz de reduzir desperdícios e permitir a reciclagem da estrutura. “A casa pode ser quase inteiramente remontada em outro local”, diz Lourenço. Um local sem muros, obviamente.