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Você tem um anjo. Aprenda a conectar-se com ele

Tradições muito antigas afirmam que temos um mestre, extensão luminosa e superior de nós mesmos, que orienta nossos atos com intuições, sinais, sonhos e sincronicidades.

Por Texto: Liane Alves
Atualizado em 21 dez 2016, 01h03 - Publicado em 18 dez 2013, 19h03
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É dito que os anjos se unem em infinitos círculos de luz em volta do Criador para cantar: “Kadoish, Kadoish, Adonai ‘Tsebayout. Santo, Santo, é o Senhor Deus das Hostes Angélicas”. Esse clamor de eterno maravilhamento entoado numa língua sagrada, o hebraico, se repete em suaves vozes femininas que podem ser vistos em vídeos do YouTube. O livro sobre a vivência ocorrida com um grupo de jovens húngaros durante a Segunda Guerra Mundial descrita em Diálogos com o Anjo (Vozes) já foi publicado em mais de 60 países. Em séries de tevê, filmes e livros, seres angélicos também se transformaram no tema principal e fazem cada vez mais parte da nossa vida. Estaria a humanidade se tornando angélica? Os homens voando cada vez mais alto em sua consciência e os anjos contando com nossas mãos para construir uma nova realidade? Ao que parece, sim. Mas quem são realmente esses seres angelicais? Tradicionalmente, acredita-se que há uma hierarquia de anjos, arcanjos, querubins ou serafins a serviço de um plano espiritual superior. São seres cósmicos, geralmente representados em coro (coro de anjos). Mas é o anjo mais próximo de nós, também chamado de mestre interior, duplo celeste, supraconsciência ou eu superior, aquele que melhor pode nos ajudar a nos transformar interiormente. Ele tem muitas das qualidades do anjo da guarda, como estar encarregado de nossa proteção e ter um olhar mais amplo sobre o futuro, mas, na verdade, esse “anjo” tão especial e próximo é apenas a nossa parte mais luminosa. Ele não está fora, está dentro de nós, e é apenas um nível superior de nós mesmos, nossa consciência mais elevada. Ao aceitar essa possibilidade, começamos a nos tornar mais atentos a intuições, sinais, sonhos, insigths, imagens ou palavras que chegam à nossa mente inesperadamente e, sobretudo, coincidências significativas, as chamadas sincronicidades. Essa é a linguagem que o anjo, nosso guia interno e consciência superior, usa para falar conosco.

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Cabala da Luz

Pessoas ligadas a grupos que trabalham com a amorosa energia angélica acreditam que a humanidade está passando por uma grande transformação. “Nesse caos em que vivemos, é pedido uma mudança de padrão de energia, de consciência. Como é muito difícil para o ser humano mudar de padrão, a vida vai nos pressionar até seguirmos esse novo caminho. Mas sempre podemos fazer essa transição com menos sofrimento e mais consciência do que está acontecendo conosco”, diz a engenheira Kati Loeb, que dirige o grupo Cabalá da Luz no Centro de Cultura Judaica, em São Paulo.

Para alguns rabinos cabalistas, a cabala é um presente oferecido aos homens pelos anjos. “Ela pode ser ensinada em cursos, livros e palestras. Mas a luz oferecida pela cabala nos chega mais através do contato com um plano mais luminoso e sutil, feito por meio de orações”, conta Kati. Segundo ela, nossa maneira racional de pensar impede a passagem da luz vinda de dimensões mais altas, pois os pensamentos estão ligados à densa energia de nossa personalidade. “É necessário rezar e pedir para que a luz esvazie o nosso mental e transmute nossos pensamentos. Assim é possível se conectar com o divino.”

Na vivência realizada por ela, essa mudança de padrão de energia é feita de forma muito sutil. Num ambiente clean e muito branco, Kati faz um pequeno relaxamento com todos do grupo. Depois, ela fala das imagens que chegam a sua mente em forma de símbolos. “Elas nos ajudam a nos abrir para receber a luz. Na verdade, é o que significa a palavra cabala em hebraico: receber”, explica. Hoje, participam do grupo Cabalá da Luz, em São Paulo, pessoas de qualquer tradição religiosa. “As imagens são para todos, e nos curam de nós mesmos, não importa a linha espiritual de cada um. Elas podem trazer alívio emocional profundo, e até mesmo a cura física.” Para Kati, as linhas espirituais que trabalham na vibração angelical procuram a elevação da consciência e a superação da energia do medo. A intenção é que, aos poucos, haja uma mudança planetária de vibração, e que os seres humanos se tornem mais pacíficos e amorosos. Pela quantidade de pessoas interessadas, poderá acontecer logo – pois somos interligados num campo vibracional maior.

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Nosso duplo celeste

Os anjos como guias e mestres interiores já são mostrados, por exemplo, em gravuras de antiquíssimos textos alquímicos do século 12, como as Tábuas de Lambspring, um mapa que usa o processo alquímico como analogia ao desenvolvimento espiritual interior. No final do caminho proposto por esse texto de alquimia, o anjo deve se unir a nós, isto é, deve “morrer” simbolicamente como entidade separada. Quando essa união com o nosso duplo celeste acontece, dedicamos nossas ações a uma outra realidade. Do anjo, herdamos as asas, isto é, a consciência mais elevada nos nossos atos.

Em outras palavras, uma hierarquia espiritual muito próxima à humana nos pede amorosamente para que deixemos as formas antigas de pensar e atuar para decidir e agir em contato com mais luz, amor, beleza, verdade, compaixão e harmonia, todas qualidades angélicas. “Quando você age de verdade, sente apenas que está inundada de alegria”, diz o anjo e mestre interior de Lili, a jovem húngara judia que recebia comunicações celestes por meio de sua amiga Hanna, descritas no livro Diálogos com o Anjo.

Aliás, a alegria e a leveza é a marca desses seres de luz, cujo trabalho é preparar uma morada para Deus em nosso coração com júbilo. “Só Ele (Deus) pode agir através de você”, diz o anjo a Lili. Por isso, não se deve adorar os anjos, apenas seus servidores. Unindo-se a nós, eles apenas facilitam nossa comunhão com Deus, a única realidade absoluta.

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Como se faz o contato

Quando os anjos aparecem em sonhos, sejam com asas ou sob a forma de jovens ou crianças de cabelos encarolados, ou mesmo através da imaginação ativa, se faz uma ligação com outro plano de realidade. O psicanalista suíço Carl Gustav Jung diria que, dessa forma, entramos em contato com o arquétipo do anjo, a imagem ancestral que o representa em nossa psique.

É um momento sublime. Como se essa realidade psíquica interna passasse a ter vida apenas a partir desse momento de conexão. Na obra O Livro Tibetano do Viver e Morrer (Palas Athena), o mestre Sogyal Rinpoche fala em vários trechos sobre o contato com esse guru interno. “Nossa natureza búdica também tem um aspecto ativo, que se manifesta como o nosso ‘mestre interior’. Em cada momento em que ficamos obscurecidos, esse mestre interior trabalhou incansavelmente por nós, incansavelmente tentando nos colocar de novo dentro da radiância e amplidão de nosso ser verdadeiro”, escreveu ele.

E esse mestre interior não desiste de nós nem por um momento. O vínculo se forma quando desejamos profundamente esse contato com ele e acreditamos na sua existência. No momento que há essa ligação, nossa luz dança de felicidade e anuncia com alegria esse encontro – instante poeticamente descrito no livro Diálogos com o Anjo. Aliás, todas as falas angelicais dessa obra foram cuidadosamente transcritas pela húngara Gitta Mallasz durante a invasão nazista na Hungria na última guerra mundial. Mais tarde, as primeiras edições do livro foram publicadas pelo Instituto Jung de Zurique, na Suíça. Depois foram divulgadas em todo o mundo, a começar pela França.

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Essa obra nos ajuda a traçar um caminho espiritual interno, sem intermediários, e anuncia uma nova humanidade e um novo tempo cheio de luz. “O Diálogos é o contato com a consciência – o anjo. É um caminho para que a ligação com essa consciência, muitas vezes uma plantinha frágil, se torne forte como uma árvore centenária. Ele é luz, carinho e alimento, especialmente para plantinhas que foram massacradas por dogmas, autoridades, ou então que, por qualquer motivo, estejam em momentos mais vulneráveis”, diz o professor de economia e empresário André Lunardelli, neto de Nicolau Lunardelli, que traduziu pela primeira vez o livro no Brasil, há 28 anos. As palavras do Diálogos podem ser tanto lidas individualmente como ser comentadas em pequenos grupos autônomos, como já acontece em São Paulo e Rio de Janeiro.

São Gregório de Patmos, um dos primeiros santos do cristianismo primitivo, dizia que “nesse mundo visível, todos os planos da Providência Divina são executados por meio de criaturas invisíveis”, seres que nos podem segredar intuições, premonições e imagens vívidas capazes de nos auxiliar. Na verdade, o que São Gegório diz é que um tapete de fios luminosos antecede a manifestação dentro do que chamamos de realidade concreta. E os anjos, e o que eles nos sussurram interiormente, fazem parte dessa tessitura.

“O que é importante notar é que todos esses insights representam modos de receber informações que transcendem os níveis rotineiros – análise, raciocínio, lógica – em que aprendemos a confiar. Esses meios de receber informações não estão acessíveis para nós o tempo todo, e alguns têm maior acesso a essas vias do que outros”, diz Sophy Burham, uma competente jornalista americana que escreveu O Livro dos Anjos (Bertrand Brasil) na década de 1990. “Creio que é como um rio, um fluxo no qual lançamos de vez em quando um anzol para receber uma informação transcendental. Não sabemos de onde vem, mas sabemos como vem – cercada de luz, desabando sobre nós com uma convicção total – e que é bem diferente dos nossos pensamentos egoístas, gerados pelo mero desejo ou pela atração pelo medo”, diz Sophy. E aconselha: “Essa informação deve ser sempre testada contra a realidade, mas, se passar nos testes, você deve segui-la, mesmo que os outros digam que não pode ser verdade”. No livro A Profecia Celestina (Objetiva) existem algumas orientações sobre como essas informações vindas de planos superiores podem se manifestar. O reconhecimento de que as sincronicidades podem sinalizar nossos próximos passos, a ideia de que as pessoas que cruzam o nosso caminho inesperadamente têm sempre algo importante a nos dizer ou mesmo a sensação de que a vida sempre nos dá indicações sobre o melhor caminho a seguir (seja por meio de uma frase lida por acaso num livro, placa ou artigo de revista, ou mesmo num insight surgido ao contemplar a natureza) podem nos sussurrar que o mundo externo está cheio de significados, e que podemos aprender a decifrá-los. Entrar em contato com os anjos é como começar a falar uma nova língua, com erros e acertos. Depois de algum tempo e prática, é provável que não seja tão difícil assim entendê-la ou expressar-se nela.

Comungando com eles

A advogada Jayah Ma há seis anos tem um grupo na capital paulista que nasceu sob a influência dos anjos e do livro O Evangelho Essênio da Paz (Pensamento). Os essênios pertenciam a um grupo dissidente do misticismo judaico que era muito influente na época de Cristo (muitos autores afirmam que Jesus teria vindo de uma comunidade essênia). Seus integrantes tinham uma relação profunda e diária com os anjos: comungavam por meio de orações com as energias angelicais predominantes do dia. “Eles estavam atentos para a força cósmica que chegava à Terra por meio dos planetas, considerados anjos por eles. E entravam em sintonia com essa vibração que vinha do universo”, explica Jayah. Também consideravam Deus um Pai Celeste e tamÉ dito que os anjos se unem em infinitos círculos de luz em volta do Criador para cantar: “Kadoish, Kadoish, Adonai ‘Tsebayout. Santo, Santo, é o Senhor Deus das Hostes Angélicas”. Esse clamor de eterno maravilhamento entoado numa língua sagrada, o hebraico, se repete em suaves vozes femininas que podem ser vistos em vídeos do YouTube. O livro sobre a vivência ocorrida com um grupo de jovens húngaros durante a Segunda Guerra Mundial descrita em Diálogos com o Anjo (Vozes) já foi publicado em mais de 60 países. Em séries de tevê, filmes e livros, seres angélicos também se transformaram no tema principal e fazem cada vez mais parte da nossa vida. Estaria a humanidade se tornando angélica? Os homens voando cada vez mais alto em sua consciência e os anjos contando com nossas mãos para construir uma nova realidade? Ao que parece, sim. Mas quem são realmente esses seres angelicais? Tradicionalmente, acredita-se que há uma hierarquia de anjos, arcanjos, querubins ou serafins a serviço de um plano espiritual superior. São seres cósmicos, geralmente representados em coro (coro de anjos). Mas é o anjo mais próximo de nós, também chamado de mestre interior, duplo celeste, supraconsciência ou eu superior, aquele que melhor pode nos ajudar a nos transformar interiormente. Ele tem muitas das qualidades do anjo da guarda, como estar encarregado de nossa proteção e ter um olhar mais amplo sobre o futuro, mas, na verdade, esse “anjo” tão especial e próximo é apenas a nossa parte mais luminosa. Ele não está fora, está dentro de nós, e é apenas um nível superior de nós mesmos, nossa consciência mais elevada. Ao aceitar essa possibilidade, começamos a nos tornar mais atentos a intuições, sinais, sonhos, insigths, imagens ou palavras que chegam à nossa mente inesperadamente e, sobretudo, coincidências significativas, as chamadas sincronicidades. Essa é a linguagem que o anjo, nosso guia interno e consciência superior, usa para falar conosco.

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Protetores da humanidade

De acordo com as grandes tradições, os seres angélicos à serviço de Deus sempre estiveram ao lado da evolução da consciência humana. Ofereceram a cabala de presente para os judeus, um sistema espiritual de integração de luz em nossa alma, e foi também um arcanjo, Gabriel, que ditou o Corão para Maomé. No cristianismo, Gabriel apareceu para a jovem palestina Maria, dizendo que ela ia ser a mãe abençoada de um flho especial, um homem que traria mais amor e consciência para toda a humanidade. Outro anjo nos primeiros tempos bíblicos impediu que Abraão sacrifcasse seu flho Isaac, marcando assim simbolicamente o fm do oferecimento de sacrifícios de seres humanos. Em alguns relatos da Bíblia, esses seres celestiais não têm asas. Em outros, são envoltos por nuvens de fogo. De qualquer forma, os anjos retratados hoje em dia, belos, esguios e com asas, foram em grande parte inspirados pela estátua grega da deusa Nice, ou Vitória da Samotracia, uma mulher alada feita quase dois séculos antes de Cristo que hoje pode ser vista no Museu do Louvre, em Paris. Isso não impediu que muitos pintores, escritores e poetas afrmassem que os viam de verdade. O pintor russo Marc Chagall, por exemplo, dizia que um anjo caiu do teto no seu quarto. O escritor Franz Kafka chegou a descrever com detalhes sua visão de um anjo. O criador da psicologia analítica, o suíço Carl Gustav Jung, até deu um nome ao seu amigo espiritual interior: Philemon. Anjos exteriores, que fazem parte de uma hierarquia celeste, são admitidos nas tradições judaica, cristã, muçulmana e hindu. Mas é o anjo mais próximo de nós, nossa consciência mais iluminada, quem realmente pode nos ajudar na nossa transformação interior.

 

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