Yasmeen Lari é uma daquelas pessoas das quais todo mundo deveria aprender sobre. Considerada a primeira arquiteta do Paquistão, ela recebeu o Prêmio Jane Drew 2020 por elevar o perfil das mulheres na arquitetura.
Aos 79 anos, Lari continua dedicando sua vida à arquitetura desde o fechamento de seu escritório em 2000, aconselhando a UNESCO e construindo casas para dezenas de milhares de pessoas afetadas por inundações e terremotos em seu país de origem.
“Estou emocionada e honrada por ser incluída na galáxia de arquitetos que receberam esse prêmio”, disse ela. Vencedores anteriores incluem Odile Decq, Denise Scott Brown e Amanda Levete.
Um pouco sobre Yasmeen Lari
Nascida em Dera Ghazi Khan (Paquistão) em 1941, Lari cresceu em Lahore até sair para visitar Londres aos 15 anos. Inicialmente lá para férias em família, acabou ficando e continuando seus estudos na Inglaterra.
Já que seu pai trabalhava em projetos de desenvolvimento em seu papel no Serviço Civil Indiano, ela despertou um interesse pela arquitetura e decidiu se matricular em uma escola. Mas, em uma entrevista para obter admissão, ela confessou que não sabia desenhar e foi aconselhada a se inscrever primeiro em uma escola de arte.
Assim ela fez – estudou arte por dois anos antes de se formar na Oxford College of Technology – hoje Oxford Brookes University School of Architecture.
Após se formar, aos 23 anos, Lari decidiu voltar para o Paquistão, onde abriu o seu escritório Lari Associates, tornando-se a primeiríssima arquiteta do país.
Arquitetura social “de pés descalços”
Além de lutar para ser respeitada como mulher em um setor dominado por homens, ela foi pioneira em sua filosofia de “arquitetura social de pés descalços”, que ajudou as comunidades de forma social e ambientalmente sustentável.
Em 1973, ela projetou o primeiro esquema de habitação pública do Paquistão, o projeto Anguri Bagh, em Lahore, cujos terraços eram abertos ao céu. Assim, as mulheres que se mudassem de suas casas propensas a inundações poderiam ter espaço ao ar livre para criar galinhas e deixar que seus filhos brincassem.
Seu programa de Lines Area Resettlement em 1980 foi um projeto ambicioso para realojar 13.000 pessoas em casas construídas com o cuidado para não distanciá-las de onde moravam e trabalhavam.
Lari também projetou edifícios de referência no Paquistão, como o Finance and Trade Center e a Pakistan State Oil House em Karachi.
Juntamente com seu marido, Suhail Zaheer Lari, ela fundou seu projeto humanitário e de conservação na Heritage Foundation do Paquistão.
Fechou seu escritório para se dedicar ao trabalho humanitário
Após anos de dedicação à arquitetura, Lari optou por encerrar suas atividades como arquiteta em 2000 e dedicar sua energia a usar sua experiência na construção de bambu e lama para ajudar o próximo, quando uma série de desastres naturais e causados pelo homem devastaram a região.
Quando as forças armadas paquistanesas lutavam contra a Al-Qaeda e o Taliban em Khyber Pakhtunkhwa em 2007, Lari construiu cozinhas comunitárias em campos de refugiados para os deslocados pelo conflito.
Usando o bambu, um material de crescimento rápido e sustentável, ela ajudou a criar 40.000 casas em quatro anos, depois que as inundações atingiram a área em 2010. As estruturas resistiram a novas inundações em 2012 e 2013.
Quando os terremotos abalaram o país em 2013 e 2015, ela também projetou abrigos resistentes a terremotos com armações de bambu cruzadas.
O fogão salva-vidas de mulheres
“Costumo dizer aos meus colegas: ‘não tratemos famílias afetadas por desastres como necessitadas, necessitando de doações'”, disse Lari à Reuters em 2014. “Em vez disso, respeitemos e os tratemos como tratávamos um cliente do setor corporativo”.
Em 2018, ela ganhou o prêmio World Habitat com seu design para um chulah – ou fogão – com economia de combustível que não emite nenhuma fumaça tóxica. Uma vez que as versões tradicionais estavam prejudicando a saúde das mulheres paquistanesas, esta peça foi uma alternativa funcional e revolucionária.