Por mais que a luta contra o racismo estrutural esteja crescendo e ganhando força, ainda há muita desigualdade quando se trata de diversidade nos ambientes de trabalho. Por isso, em janeiro, Melinda Gates anunciou uma iniciativa de U$ 50 milhões para apoiar os centros de tecnologia com inclusão de gênero, destacando a realidade sobre a indústria de tecnologia: as mulheres estão constantemente sub-representadas na força de trabalho. Para as mulheres pretas, essas margens são ainda mais extremas. Segundo um estudo da McKinsey, elas representam apenas 4% das funções técnicas nas empresas de tecnologia (apesar de serem responsáveis por 16% da população em geral). E quando se trata de lugares na sala de reuniões, essa proporção diminui ainda mais.
E para conseguir preencher essa lacuna, é preciso ir nos estágios mais básicos da formação, visto que as meninas têm menos acesso e exposição aos tipos de treinamentos baseados em matemática, engenharia e ciências que, mais tarde posicionam seus colegas homens como candidatos a empregos em tecnologia.
Portanto, para um grupo emergente de líderes tecnológicos – e arquitetos – que desejam ver uma maior equidade de gênero refletida em todo o setor, a criação de ambientes em que as meninas mais jovens tenham acesso aos fundamentos da tecnologia se tornou uma prioridade. O Código das Garotas Pretas é um por exemplo. Sua fundadora, Kimberly Bryant, lembra-se de estar “culturalmente isolada” ao longo de seu treinamento em engenharia, então lançou código para oferecer às meninas um ponto de acesso aos fundamentos da tecnologia, incluindo a codificação.
Para projetar seu novo espaço, em Nova York, o Black Girls Code se voltou para o dinamarquês Kurani, um jovem arquiteto treinado em Harvard, que havia projetado recentemente o Code Next Lab do Google, um espaço para estudantes em idade escolar que cursassem lições de matemática, ciências e tecnologia. Como o objetivo do Código das Garotas Negras é tornar a tecnologia e a ciência menos intimidadoras, seu design de interiores era imperativo. Kurani observa: “Esta é a primeira vez que muitas dessas garotas estão fazendo robótica ou codificação, então a pergunta era ‘como você cria um espaço onde a tecnologia parece menos assustadora e mais familiar?’” Sua resposta é um ambiente de cores vivas que incentiva as meninas para interagir com o espaço – de uma maneira não muito diferente de um local de trabalho técnico.
“O design é feito para fazê-los sentir como se estivessem nos bastidores, por dentro”, diz Kurani. “O interior é uma tentativa de quebrar a tecnologia, de torná-la familiar”. Os gráficos de parede referem-se à tecnologias seminais, monitores interativos se abrem para dispositivos comuns, como smartphones e estações de jogos, e um recurso de parede pede que as meninas combinem o interior dos dispositivos com o revestimento externo.
Os elementos arquitetônicos também foram projetados para oferecer oportunidades de ensino. Como Kurani explica: “Para iluminar, expusemos os filamentos para que as meninas pudessem ver o que entra nas luzes e, para os condutos que correm ao longo do teto, os convertemos para parecer o circuito de uma placa-mãe.”
O espaço, no entanto, não é apenas focado na instrução e no ensino. Parte de seu objetivo é fazer com que as meninas se sintam confortáveis e confiantes em relação à tecnologia.