Como as epidemias da história moldaram o design atual da casa

Entenda como as práticas de saúde atuais surgiram e como elas passaram dos laboratórios para as cidades e, depois, para as residências

Por Redação
Atualizado em 19 Maio 2023, 13h24 - Publicado em 30 dez 2021, 13h00
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(Reprodução/Casa.com.br)

Depois de mais de um ano de coronavírus, provavelmente você já criou uma nova relação com a sua casa e muitos novos hábitos de higiene. Desde o borrifador de álcool e frasco de álcool gel sempre à vista até – para aqueles mais preciosistas – um local para deixar os sapatos e higienizar as mãos antes de encostar em qualquer coisa.

Também é normal que você tenha se perguntado, em algum momento, como as nossas casas, escolas, transportes e escritórios de trabalho não estavam preparados para uma situação dessas. No máximo alguns tinham dispensers de álcool gel em um ou outro canto.

Mas o que você pode não saber é que muito do design das nossas residências contemporâneas surgiu em decorrência de outras grandes epidemias, como a pandemia de gripe de 1918, tuberculose e disenteria, por exemplo.

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(Reprodução/Casa.com.br)

A realidade é que a história do mobiliário dos último duzentos anos está muito relacionada à medidas de saúde. A professora de História da Arquitetura da Universidade Federal do Paraná, Juliana Suzuki, explica como essas doenças moldaram a casa.

“Isso começa com as medidas sanitaristas na Europa, no final do século 19. Foi nessa época que as grandes descobertas sobre a transmissão de doenças estava acontecendo. As pessoas acreditavam que o grande vetor de doenças era o próprio ar. Por isso quem estava doente era mandado para longe da cidade, para receber ‘bons ares’. É com a epidemia de cólera na Inglaterra, que dizimou as populações urbanas, que o debate acerca da origem das doenças começa a ganhar mais força”, diz Juliana.

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(Reprodução/Casa.com.br)
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Naquela época, tarefas muito básicas, como lavar as mãos e limpar a casa, não eram costumes. Foi só com os avanços da Ciência e a descoberta das bactérias que a compreensão sobre higiene passou a ser difundida.

“Essas práticas sanitaristas começam como medidas governamentais. Hoje, parece estranho, mas era preciso leis para que as pessoas varressem suas casas e lavassem as mãos. E elas ficaram indignadas! Porque não entendiam muito bem a razão daquilo”.

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(Reprodução/Casa.com.br)

Depois de algum tempo, essas práticas de saúde se mostraram muito efetivas e tornaram-se rotina. “Em um certo ponto, isso passa da esfera do urbanismo para o espaço doméstico e é incorporado na arquitetura e na decoração.

Veja, por exemplo, as alcovas, quartos sem janela nenhuma, eles eram muito comuns. Mas depois percebeu-se que a não ventilação colabora com a propagação de doenças, então elas deixaram de ser autorizadas”, pontua a professora.

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Abaixo estão exemplos de itens, cujo design foi vinculado a tentativas de conter doenças infecciosas:

Armários

 

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(Reprodução/Casa.com.br)

Se você já foi em algum apartamento mais antigo (ou até more em um), há grandes chances da falta de espaço no armário ser um problema. A razão disso é que, até o início do século 20, era comum que as roupas ficassem guardadas em vários móveis independentes.

A mudança para concentrar tudo nos armários aconteceu para facilitar a limpeza dos quartos. Guarda-roupas e gabinetes eram pesados e juntavam muita pó e sujeira. Em meados de 1920, Le Corbusier consolida essa ideia escrevendo sobre a importância da higiene e da limpeza no design das residências e defendendo o minimalismo.

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Azulejos de cozinha

 

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(Reprodução/Casa.com.br)
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Sabe os famosos azulejos brancos de hospital? Eles se popularizaram nas casas a partir do século 19, porque eram associados à limpeza e a ambientes livres de germes. Foi nessa época que as pessoas começaram a compreender como boa parte das doenças infecciosas se propagavam, assim, paredes claras, lisas e fáceis de limpar eram uma forma de garantir que a sujeira apareceria e pudesse ser limpa facilmente.

Lavabos

 

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(Reprodução/Casa.com.br)

A ideia por trás do lavabo era não ter de compartilhar o banheiro que você e sua família usam com estranhos. Considerando que tratava-se de um período que receber pessoas e entregas diárias em casa era comum (pão, leite, carvão até gelo), um banheiro logo na entrada da casa era conveniente caso alguma visita quisesse usá-lo.

Além disso, ter uma pia perto da sala e da entrada estimulava a higiene das mãos, medida crucial na prevenção de doenças.

O que está por vir

 

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Ainda é meio cedo para saber quais serão os impactos do Coronavírus no mobiliário doméstico, contudo, é seguro dizer que as medidas sanitárias voltarão a ser a pauta. Talvez no futuro, as casas terão pias ao lado das portas principais, talvez, entradas separadas que vão direto para os banheiros, para que a higienização aconteça antes de entrar.

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(Better Homes & Gardens/Reprodução)

Espaços como o mudroom (um local no hall de entrada para deixar sapatos, casacos e bolsas) já estão em voga, assim como revestimentos e superfícies auto-limpantes e projetos pensados para o distanciamento social. Isso sem mencionar o boom na demanda por locais de home office nas residências e também de locais de descompressão, já que a casa passou a ser um local multifuncional.

Quarto de casal com closet e canto para trabalho home office
(Luis Gomes/Minha Casa)

Mesmo com o arrefecimento da pandemia, é provável que as mudanças e hábitos adquiridos durante ela permaneçam, assim como os itens da lista. Por enquanto, o que nos resta é manter os cuidados ao máximo, continuar usando máscaras e tomar as vacinas, assim mantemos nossa casa, famílias e nós mesmos seguros.

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Fontes: https://www.architecturaldigest.com/story/subway-tile-design-in-epidemics

 

 

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