Com o passar dos anos, os antigos quartos de serviço deixaram de ser um elemento obrigatório nas plantas residenciais. À medida que as necessidades dos moradores evoluíram e os estilos de vida se transformaram, esses ambientes anacrônicos, comumente encontrados em imóveis construídos no Brasil desde a década de 1930, passaram a ser repensados nos projetos de reforma.
O pequeno cômodo, tradicionalmente localizado junto à cozinha ou lavanderia, hoje ganha novos encargos, se adaptando ao ritmo contemporâneo das moradias e contribuindo para layouts mais flexíveis, refletindo um novo comportamento de nossa sociedade.
Com uma configuração bastante modesta, sendo até, na maioria das vezes, desrespeitoso com quem que ali repousava, sua extinção na arquitetura de interiores tanto é percebida nas reformas das casas e apartamentos datados desse extenso período, como nas plantas atuais. Profissionais como o arquiteto Raphael Wittmann, da RAWI Arquitetura + Design, têm explorado maneiras criativas de transformar essas dependências em ambientes úteis e modernos. “Entre tantas possibilidades, incorporar essa área ajuda a resolver questões da vida atual como um escritório ou o sonho de um closet “, comenta.
Flexibilidade e reaproveitamento
Hoje, o destino do antigo quarto de serviço varia conforme o perfil dos moradores e suas particularidades. Em alguns casos, ele é mantido para incumbências práticas como despensa, depósito ou extensão da lavanderia e, em outros, é completamente reimaginado. “Vale ressaltar que qualquer intervenção valoriza o imóvel sem nenhum desperdício de área útil”, declara Wittman.
Ele ainda observa que não existe uma solução única para decidir entre manter ou eliminar o quarto de serviço. “Tudo caminha de acordo com os desejos dos nossos clientes e o potencial dessa área”, analisa.
De suítes até home offices
A reconfiguração do quarto de serviço oferece uma oportunidade valiosa para agregar outras finalidades às moradas. Em reformas, a área pode ser convertida em novos ambientes ou, por meio de sua eliminação, repensar a planta baixa contribui para o conforto e a fluidez quando a ideia é otimizar e ampliar cômodos como cozinha, lavanderia ou banheiros.
Entre os projetos que realizou, o profissional reformou este apartamento antigo, de 70 m², que ganhou uma suíte e um home office por meio da eliminação do quarto de serviço. “Essa reconfiguração valorizou o imóvel tanto nas aplicabilidades, quanto em valor venal”, afirma. O projeto ilustra como esses espaços podem ser reaproveitados de forma inteligente, adequando-se ao estilo de vida atual e maximizando o potencial do imóvel.
Outras intervenções realizadas pelo escritório também seguem a mesma linha de transformação. Seguindo Wittman, ele e sua equipe já converteram esses quartos em closets, alongaram banheiros para incluir banheiras de hidromassagem e até executaram novos dormitórios estrategicamente posicionados. “O primeiro ponto que observamos é se esse cômodo em questão dispõe de alguma interligação com a área íntima ou social para então abrirmos uma porta”, explica.
O contexto histórico e a quebra de paradigma
Embora hoje essas mudanças sejam comuns, o quarto de serviço tem raízes históricas que refletem uma sociedade com relações de trabalho doméstico distintas. Nos apartamentos construídos entre as décadas de 1940 e 1970, era usual que estivesse associado às tarefas domésticas, muitas vezes em condições limitadas e incômodas.
“Frequentemente pequenos e sem ventilação, essa dependência surgiu em um contexto em que o trabalho doméstico era intensivo e com poucas preocupações com o bem-estar de quem o realizava”, pontua o arquiteto sobre o histórico da arquitetura que carrega traços mais antigos, desde a época da escravatura. Com o tempo, alterações sociais e leis trabalhistas trouxeram novas exigências e, gradualmente, essa configuração foi sendo substituída por soluções mais adequadas às demandas do momento.
Soluções para famílias e profissionais
Há situações em que a necessidade de um espaço exclusivo para funcionários domésticos ainda é relevante. Para esses casos, o arquiteto sugere possibilidades que zelem pela privacidade e a comodidade de todos os habitantes da casa. “Atualmente, a prática é acomodar esses profissionais em quartos adequados, com ventilação e luz natural, ou em áreas próximas ao bebê, idoso ou quem precisa de uma atenção dedicada, de acordo com as atribuições do ofício”, finaliza o arquiteto.