Udada. Em kiswahili, uma das línguas oficiais do Quênia, essa expressão significa sororidade – ou seja, a empatia e companheirismo entre mulheres na busca de algo em comum.
Inspirada nisso e nas mulheres que conheceu em sua viagem ao país africano, a artista paulistana Fernanda Feher expõe seu mais novo trabalho na Galeria BG 27, na Zona Oeste de São Paulo. A mostra ocorre entre os dias 9 de maio e 7 de junho, e reúne 16 obras que retratam mulheres africanas, dentre elas aquarelas, pinturas a óleo e tecidos.
Em nome de uma missão sobre casamento infantil, violência e mutilação sexual feminina, Feher viajou ao Quênia (África). Lá, participou de um projeto da ONG COVAW, que tinha o objetivo de conscientizar a comunidade local acerca dos temas por meio de conversas.
Mas a missão acabou sendo uma troca: permitiu à artista conhecer pessoas e suas histórias, o que lhe inspirou a criar as obras da “Udada – Sisterhood”, repletas de conteúdo social.
“Os meus retratos contam histórias, mostram a força e alegria de mulheres que são mutiladas ou de garotas das escolas que visitei. O objetivo não é só colocá-las, necessariamente, no lugar de vítimas. Acho que se eu pintasse vaginas mutiladas não estaria colaborando em nada com esse processo e talvez ninguém viesse me perguntar quem são elas”, diz Feher.
O lucro da artista, proveniente da venda das telas, será completamente revertido para projetos da organização. A COVAW (Coalition on Violence Against Women) foi fundada em 1995 e é comprometida a promover os direitos femininos, trabalhando para conquistar uma sociedade livre de todas as violências contra mulheres e meninas.
Confira em nossa galeria algumas obras da exposição:
Sobre a mutilação genital feminina
Segundo a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), a mutilação genital feminina acontece para 200 milhões de mulheres no mundo. Ocorre, principalmente, em países da África e do Oriente Médio, mas também em regiões da Ásia, da América Latina e entre imigrantes que moram na Europa Ocidental, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia.
Trata-se da transformação do órgão genital feminino, a partir de técnicas que podem resultar em remoção do clitóris e dos pequenos lábios, corte ou reposicionamento dos grandes lábios e costura. As razões que levam à prática são, geralmente, sociais e religiosas, para preservação da virgindade, castidade e passagem para vida adulta. É, inclusive, pré-requisito para casamento em algumas culturas.
O processo é doloroso e não conta com preparo sanitário. Além disso, é pensado para alterar a anatomia original, anulando o prazer sexual feminino e intensificando o do homem. Como resultado, condições de higiene também são afetadas, prejudicando a saúde da mulher.